Tapete da morte estende-se
sobre o cenário mórbido da agonizante Lagoa do Portinho
Ali, fedendo em cima da
terra, uma defunta insepulta virou atração de vários olhares curiosos, da
mídia, de turistas e de “ambientalistas” que lamentam, sob o manto da
hipocrisia, a morte de um pedaço do nosso estado. Um dos mais belos cartões
postais do Piauí transformou-se num cenário mórbido, fétido, putrefato, onde a
luta pela sobrevivência parece não cessar. Onde antes a vida resplandecia bela
e sorridente, hoje a morte reina soberana, exalando o mau-cheiro dos olhos
remelentos e fechados do poder público. Esta defunta em decomposição chama-se
Lagoa do Portinho.
Localizada entre os
municípios de Parnaíba e Luís Correia, a finada Lagoa – localizada a 320
quilômetros da capital Teresina – possuía uma bacia hidrográfica com área de
cerca de 40 mil hectares, com vasão média natural correspondente a 2m³/s (dois
metros cúbicos por segundo). Hoje são 40 mil hectares de lama, barro seco,
peixes mortos e fedor. A morte nunca foi tão espaçosa em nossa região. A única
vasão agora não é mais de 2m³/s de água, e sim 2m³/s de lágrimas de uma defunta
insepulta, que clama por duas coisas: ou sua salvação, ou seu sepultamento,
caindo eternamente no caixão do esquecimento e do abandono. Esta última escolha
não parece muito sábia, pois a causa dessa desgraça é conhecida e já foi
localizada. Entretanto, os braços fortes de quem tem o poder de lutar pelo
cartão postal parecem estar cruzados.
O drama do ponto turístico
teve início no final do ano passado devido a um longo período de estiagem que
durou cerca de cinco anos. O que também colaborou para o processo de escassez
de água foi um suposto desvio de afluentes, como o Rio Marruá e o Rio Portinho,
para propriedades particulares na comunidade Olho d’Água que desenvolvem a
prática da aquicultura (criação de peixes).
O ambiente colorido, vivo,
onde se ouviam risos da natureza deu lugar a um cenário preto e branco, morto,
em que só se ouvem choros, gritos e gemidos. O contraste entre vida e morte é
constante: urubus, gaivotas e andorinhas disputam espaço pela fina lâmina
d’água que ainda resta no local, buscando alimentar-se dos moluscos e peixes
mortos que formam um tapete de podridão por sobre o espaço que antes era
preenchido por uma bacia hídrica com volume de cinco milhões de metros cúbicos
de água (dados da SEMAR – Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos).
Pescadores lutam por sua
sobrevivência debaixo do sol escaldante, na esperança de que ainda haja alguns
peixes vivos na pequena faixa de água que inda resta. A tristeza é visível em
seus rostos quando suas tarrafas saem vazias da água, sem peixe algum, apenas
restos de uma vida que antes sorria e gargalhava para todos que ali chegavam. A
cada jogar de tarrafas, um ar de esperança; a cada retirar, um ar de
desesperança e desassossego. Contrastes nada agradáveis.
Com a atual situação em que
se encontra o local, várias atividades que movimentavam a economia da região
foram afetadas, como o turismo, a pesca e o comércio. Vários bares que funcionavam
no local fecharam suas portas e os comerciantes se veem aflitos sem meio de
sobrevivência. Até mesmo as gaivotas que se alimentavam dos peixes, estão
morrendo de fome. De fato, a falta de chuvas e a ação desordenada do homem
foram os principais autores deste assassinato.
Ao que nos parece, o poder
público já deu o Atestado de Óbito da falecida Lagoa, pois até a pista que dá,
ou dava, acesso ao local foi parcialmente tomada pelas dunas. Isso comprova,
sem sombra de dúvidas, que as gestões municipal e estadual já lavaram as mãos
em relação ao caso. Nenhuma importância está sendo dada à situação e a Lagoa do
Portinho está a Deus dará, dando seus últimos suspiros, até se transformar em
coisa alguma.
“Quando for cortada a última
árvore, pescado o último peixe e poluído o último rio, o homem vai perceber que
não pode comer dinheiro.” (Provérbio Indígena)
Fonte: Portal PHB em Nota
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